terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Fios da Cidade
Sob o Sol
Sob o sol, logo procurou a sobra da árvore para se esconder. Aquele calor fazia a pele suar e isso a incomodava. Já esperara sua carona centenas de vezes naquele local, mas nunca notou como eram confortáveis aquelas sombras. Ficou ali prestando atenção no vento e na vida. Sentou no meio fio e relaxou.
Lembrou de um tempo em que ela ainda sorria e deixava as pequenas coisa da vida lhe tocar. Lembrou de uma amiga de sua falecida mãe que dizia:
- Seja sempre essa criança que você é.
Um estalo lhe veio à mente. Caindo em si, notou que o bom da vida está exatamente em ressalvar coisas tão corriqueiras que os olhos ligeiros do dia-a-dia impedem de ver, olhos que percorrem o fim do caminho sem notar o meio, e quem dirá, o início, olhos que famintos pela ânsia de ser e estar atropelam o bom senso e marginalizam a vida de tal forma que nada mais pode ser feito, além de esperar por seu fim.
Gemeu baixinho, um choro frouxo, pois se dera conta que estava levando seu rebento para o mesmo caminho. O filho, ainda novo, já era só atribuições e não tinha tempo de buscar dentro dele o verdadeiro eu.
Aquilo que ela mais amava se tornara um soldado do tempo, sem pensar por si, simplesmente acompanhando aquilo que a vida lhe trazia e lhe tirava.
Quem determina minha vida é o tempo? Perguntou-se inúmeras vezes até que chegou a conclusão mais acertada de sua vida. Manter-se ali, embaixo daquela árvore e ouvir o vento soprar. Nada além disso.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
Na vida não são só flores
Rosa em verso? Uma ova! Em prosa. De pétalas e espinhos, colorida, essa é a vida. Em uma cidade você pode acompanhar um homem, seu nome é Paulo, que passa a sua existência procurando o seu contentamento e colhe apenas relva, daninha e que consome quase todo o campo.
Esse Paulo constrói prédios, constrói avenidas para que outros Paulos, Bernardos e Andrés passem por elas. O progresso deve continuar! O progresso traz com ele o regresso, pois nem sempre o Paulo consegue pôr comida em casa. Outros homens como Paulo fazem o mesmo que ele e pelo mesmo preço, às vezes menos.
Maldito capitalismo desumano!
Tornando o mundo uma gangorra, onde para Paulo se manter por cima tem que jogar alguém para baixo ou esperar que o outro morra.
E não passa de um jogo, manipulado por aqueles que contratam os serviços daqueles que contratam os serviços de Paulo. E contam com a miséria de muitos que se amontoam em conjuntos habitacionais, subúrbios e favelas. Vivem do sofrimento de vários e carregam consigo o poder de decidir a vida de todos.
Paulo acordou e viu sua relva e todo o campo enlameado, ajoelhou e pediu a Deus que houvesse uma esperança, e lá onde seus joelhos encostaram nasceu uma flor. Naquele mesmo dia começara a trabalhar, agora registrado. Os pães voltaram à mesa e agora onde havia um lugar para gelar a água existe comida e dignidade.
Entre essas paredes existe um Paulo, nessa rua existem muitos Paulos, naquele Cingapura, então, são centenas, nessa cidade, milhões. São muitos Paulos, isso é São Paulo