terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Fios da Cidade


Foto: Ronaldo Júnior

A cidade cruza-se, descruza-se, emaranha-se, veste seu brilho negro de embaraço. São caminhos, rotas, meios, fugas, soluções do caos, da ausência de solução, da ausência do poder, da ausência de ordem, da vigência da não-vigilância, do acaso, da sorte alheia, do descaso.

A cidade é seu emaranhado próprio, sua própria lei, sua própria solução. Dissolve-se no improviso de seus cidadãos, de suas necessidades urgentes, na busca auto-indulgente de meios pelos meios tortos. É torta na sua essência a cidade, constrói-se diariamente no descontrole, no crescimento, na fuga necessária de uma ordem sem progresso (falsa) e de um progresso sem ordem (inútil), na urgência de um fio condutor entre a realidade ideal e a realidade real.

A cidade é um cruzamento de fios orgânicos, de vidas em correntes e colisões, em gambiarras sociais, em esdrúxulas combinações. A cidade é um fluxo corrente ininterrupto rumo ao desconhecido, rumo ao possível colapso, a um possível, esperado e inevitável curto-circuito. A cidade é um poço inflamável, a espera de uma só faísca.

2 comentários:

Ronaldo Junior disse...

Muito bom! Um texto que reflete a sufocação da cidade.

Nathalya Buracoff disse...

Gambiarras sociais! Muito bom. A foto e o texto refletem a condição caótica das grandes metrópoles!
Parabéns!