terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sob o Sol

Foto: Rogério de Moraes

Sob o sol, logo procurou a sobra da árvore para se esconder. Aquele calor fazia a pele suar e isso a incomodava. Já esperara sua carona centenas de vezes naquele local, mas nunca notou como eram confortáveis aquelas sombras. Ficou ali prestando atenção no vento e na vida. Sentou no meio fio e relaxou.

Lembrou de um tempo em que ela ainda sorria e deixava as pequenas coisa da vida lhe tocar. Lembrou de uma amiga de sua falecida mãe que dizia:

- Seja sempre essa criança que você é.

Um estalo lhe veio à mente. Caindo em si, notou que o bom da vida está exatamente em ressalvar coisas tão corriqueiras que os olhos ligeiros do dia-a-dia impedem de ver, olhos que percorrem o fim do caminho sem notar o meio, e quem dirá, o início, olhos que famintos pela ânsia de ser e estar atropelam o bom senso e marginalizam a vida de tal forma que nada mais pode ser feito, além de esperar por seu fim.

Gemeu baixinho, um choro frouxo, pois se dera conta que estava levando seu rebento para o mesmo caminho. O filho, ainda novo, já era só atribuições e não tinha tempo de buscar dentro dele o verdadeiro eu.

Aquilo que ela mais amava se tornara um soldado do tempo, sem pensar por si, simplesmente acompanhando aquilo que a vida lhe trazia e lhe tirava.

Quem determina minha vida é o tempo? Perguntou-se inúmeras vezes até que chegou a conclusão mais acertada de sua vida. Manter-se ali, embaixo daquela árvore e ouvir o vento soprar. Nada além disso.

3 comentários:

Nathalya Buracoff disse...

Ai que lindooooo!!
Realmente, essa sensação de vento é maravilhosa!!

Rogério de Moraes disse...

Ótimo texto. A frase "Aquilo que ela mais amava se tornara um soldado do tempo", me deu um comichão de inveja de tão bem escrita e elaborada. Sem rapapés, gostei mesmo. E só por curiosidade, a foto foi tirada dentro do cemitério Cachoerinha, numa manhã de quarta.

SilValle disse...

Que bela maneira de despejar as palavras no papel. Brilhante!