sexta-feira, 10 de abril de 2009

Lar


Foto de Ronaldo Júnior

Tenho também o meu lar, que não goza de brilho e esplendor. Mas é meu lar. Meu lar tem a doce demora do tempo, o abandono triste do vago, o desencanto da sonora solidão de suas manhãs frias. Mas é meu lar. Não aconchega, nem despreza; não rejeita nem convida, mas se faz íntegro na sua merecida instância de abrigo da minha dor, abrigo da minha ausência discreta, da minha presença ignorada no mundo. Não há estrelas no chão de meu lar, e se as houvesse quem as pisaria distraída? As bandeiras agitadas de meu estandarte da miséria não trás o colorido de qualquer carnaval, nem a euforia de uma falsa alegria de reis. É branco e pobre meu estandarte e dele subentende-se somente o óbvio sem metáforas de andrajos que secam no orvalho da noite. Guarda em si meu lar a escassez de meus sonhos, a penúria de minhas manhãs, o mal acalanto das frestas que me roubam calor e paz. Mas é meu lar. Onde sou rei, onde sou eu e mais ninguém.